quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Deus está em suas mãos


Dois homens percorriam o deserto.

Eles puxavam um camelo que levava nas costas vários tipos de mercadorias.

Em determinado ponto, depois de enfrentarem as areias escaldantes por muitas horas, finalmente encontraram um oásis.

O mais velho diz: - Filho, vamos descansar aqui. Podemos dormir durante esta noite. Vou me deitar agora. Amarre o camelo bem firme e, depois, pode dormir também.
- Sim, mestre - respondeu o outro.

O jovem olhou para o camelo e, depois, para o céu estrelado.
De forma muito contrita, fez uma prece:
"Senhor, meu Deus, estou muito cansado agora para amarrar o camelo. Por favor, tome conta dele. Obrigado, meu Deus. Confio em Vossas mãos o nosso camelo".

Em seguida, foi deitar-se sob uma palmeira e adormeceu tranquilo.
A manhã surgiu com pássaros a cantar e raios quentes de sol.

De repente, alguns gritos cortaram a paz daquele dia que nascia.
- O camelo fugiu! O camelo fugiu! - berrava o mestre. - Você não o amarrou?

O rapaz acordou assustado, e olhando para o velho, disse:
- Mestre, durante vários anos aprendi com o senhor a confiar em Deus. Ontem à noite eu pedi a Ele que tomasse conta do camelo. Mas Ele não tomou...


O velho e sábio mestre, então, disse:
- As mãos de Deus na Terra são as suas. Confie em Deus, mas sempre amarre seu camelo... Creia, e faça a sua parte!

Autor desconhecido.


Feliz 2015!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

AIDS - Uma antiga mensagem da MTV




Neste Dia Mundial da AIDS, lembrei deste antigo comercial da MTV, que deve ter sido veiculado na TV há uns 20 e poucos anos atrás, onde esse texto declamado bem interessante, que não diz nada explicitamente, mas todos sacam que estavam falando sobre AIDS.

E como gosto de cinema, ilustro o texto com alguns personagens soropositivos que marcaram a Sétima Arte.


Telly não sabe que tem AIDS e só quer transar com virgens,
em Kids (1995)
Todo mundo quer comer,
Todo mundo quer beber,
Todo mundo quer dormir,
Você não quer?








O homofóbico Ron e a travesti Rayon unem forças na luta
 contra a AIDS e o sistema  farmacêutico em
Dallas Buyers Club (2013)
Todo mundo gosta de viajar,
Todo mundo gosta de sair,
Todo mundo gosta de ter amigos,
Você não gosta?






Richard está muito doente e antecipará a própria morte,
em The Hours (2002).
Todo mundo quer poder estudar,
Todo mundo quer poder trabalhar,
Todo mundo quer poder ter amor,
Então, por que não pode?





Judite está morrendo e esbanja alegria, maturidade
e força interior para encarar a vida em Boa Sorte (2014)
Evitar a doença não significa evitar as pessoas,
Informe-se e dê um fim no preconceito!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O ódio à democracia

Este ano eleitoral com eleitores tão acalorados, cheios de mensagens de ódio e boatos de toda sorte, e com uma imprensa que ajuda pouco para esclarecer à população, fiquei ainda mais interessado em Política. Mas um livro me chamou a atenção pelo seu título forte: "O ódio à democracia" (La haine de la démocratie, 2005), do filósofo francês Jacques Rancière, publicado este ano no Brasil pela Boitempo Editorial.

Estou longe de ser crítico literário e mais longe ainda de ser cientista político, mas vou dividir com a Internet (melhor admitir que ninguém lê esse blog mesmo... rs) algumas coisas que achei interessante.

Por exemplo, eu não imaginava que em meados do século XIX, o Manifesto Comunista (de Karl Max e Friedrich Engels) já acusava a mercantilização generalizada dos relacionamentos, quando todas as práticas profissionais tendem a se banalizar, perdendo seu horizonte político ou metafísico, transformando-se em mera relação contratual. Citemos como exemplo o profissionais mais sagrados e satanizados do Brasil: Os médicos e os professores. Quantos médicos e professores se sentem apenas meros prestadores de serviço? Quantos médicos e professores sentem sua profissão como uma missão especial para a Humanidade?

Eis o que diz o Manifesto: [a burguesia] afogou os fervores sagrados da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma única liberdade sem escrúpulos: a do comércio. [Ela] despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas como dignas e encaradas com piedoso respeito. Fez do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio seus servidores assalariados.

Um dos inúmeros problemas da educação nas escolas - a relação corpo docente x corpo discente, por estranho que pareça, tem a ver com a igualdade democrática: Não há mais lugar para nenhum tipo de transcendência, é o indivíduo que é erigido em valor absoluto e, se alguma coisa de sagrado persiste, é ainda a santificação do indivíduo, por meio dos direitos humanos e da democracia [...] Eis, portanto, por que a autoridade do professor está arruinada: por essa polarização da igualdade, ele não é mais do que um trabalhador comum, que se encontra diante de usuários e é levado a discutir de igual para igual com o aluno, que acaba por se instalar como juiz de seu mestre.

A democracia é tão perturbadora da ordem que até os animais ganharam o status de serem vistos como iguais. Quase todos os desenhos animados hoje defendem o direito deles e o movimento vegano parece estar ganhando força. Leiam esta pérola: A democracia é propriamente a inversão de todas as relações que estruturam a sociedade humana: os governantes parecem governados e os governados, governantes; as mulheres são iguais aos homens; o pai se habitua a tratar o filho de igual para igual; o meteco e o estrangeiro tornam-se iguais ao cidadão; o professor teme e bajula alunos que, de sua parte, zombam dele; os jovens se igualam aos velhos e os velhos imitam os jovens; os próprios animais são livres e os cavalos e os burros, conscientes de sua liberdade e dignidade, atropelam aqueles que não lhes dão passagem na rua.

Sobre a "dominação capitalista mundial" e a "tirania do consumo", o autor responsabiliza os
próprios indivíduos: Os indivíduos não são vítimas de um sistema global de dominação, mas os responsáveis por esses sistemas; são eles que fazem reinar a "tirania democrática" do consumo. As leis de crescimento do capital, o tipo de produção e circulação de mercadorias que elas comandam, tornaram-se simples consequência dos vícios daqueles que as consomem e, em particular, daqueles que têm menos meios de consumir. A lei do lucro capitalista reina sobre o mundo porque o homem democrático é um ser de desmedida, devorador insaciável de mercadorias, direitos humanos e espetáculos televisivos.



De fato, também discordo dessas ideologias que põem a culpa dos nossos males sobre o sistema. Quem faz o sistema somos nós, os vícios do sistema são alimentados por nossos próprios vícios. Precisamos aprimorar a nós mesmos para aprimorar a democracia. Acredito que o verdadeiro socialismo não consiste em partilhar bens materiais. Cada um deve ter a liberdade de viver como quiser e puder. O socialismo que acredito consiste em partilhar conhecimento e sabedoria, sem imposições. Já dizia Jesus: A verdade liberta.

Por isso cito as últimas linhas do livro: A coisa tem por que suscitar medo e, portanto, ódio, entre os que estão acostumados a exercer o magistério do pensamento. Mas, entre os que sabem partilhar com qualquer um o poder igual da inteligência, pode suscitar, ao contrário, coragem e, portanto, felicidade.


sábado, 17 de maio de 2014

3 em 1 Bukowski


Este livro foi uma excelente ideia de minha irmã mais nova para me presentear no natal 2013. Demorei um pouco pra começar a lê-lo porque precisava de óculos.

Queria ser do tipo que anota sempre as partes mais interessantes e provocativas para escrever uma resenha bem "profissa".

Bom, o que posso dizer é que a escolha da L&PM Editores por essas três obras ficou perfeita: Cartas na rua (Post Office, 1971), depois Mulheres (Women, 1978) e, por fim, O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio (The captain is out to lunch and the sailors have taken over the ship, 1994), é uma sequência perfeita, pois conta a história de um homem da maturidade até uma azeda velhice.

Os dois primeiros contam a história do alter ego Henry Chinaski e o último é do próprio autor destilando seu desprezo pela humanidade. Percebemos claramente que Chinaski e Bukowski se confundem, então dá pra você ficar conhecendo bem esse velho safado.

Bukowski não é literatura para boas moças nem rapazes direitos, é para quem encara a vida com sensibilidade.

Recomendo com entusiasmo!

sábado, 1 de março de 2014

Chutometria Oscar 2014

As cobiçadas estatuetas douradas!
Depois de tomar banho de manjericão e fazer a meditação da lua nova, fiquei pronto para receber as vibrações que irão revelar quais devem ser os ganhadores do Oscar, na festa de amanhã. Mas não me condenem se eu não acertar, pois nem macumbeira das boas consegue prever as indicações e resultados da premiação de cinema mais concorrida e subjetiva da História. Não conte muito com a lógica aqui.

Filme obrigatório!
Este ano não participei de nenhum bolão de apostas, e nem me dediquei a ler algo a respeito, mas pelo menos consegui ver com antecedência todos os filmes que concorrem às categorias principais: Filme, direção, atores e atrizes principais e coadjuvantes, e roteiro. Não vi todos os de animação porque moro no fim do mundo, e nem tudo chega por aqui. Gosto de ver os de língua não-inglesa, mas é dificílimo ver todos antes do dia da festa de premiação.

É curioso como 2013 parece que foi o ano dos filmes biográficos, tá cheio de dramas reais.

Ano passado expliquei aqui algumas coisas sobre essa premiação. Vamos à chutometria 2014:

1. Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), por ser o filme mais brutal do ano. A beleza do filme está em escancarar toda a feiura e estupidez que foi a época da escravidão. Melhor ainda, baseado num livro que contou a história real de Solomon Northup, um negro alforriado que foi sequestrado e vendido como escravo. É de revirar o estômago de tanto ódio com as atuações de Michael Fassbender e Sarah Paulson como o casal Epps, e a tristeza insuportável transmitida por Lupita Nyong'o como a escrava Patsey que, de tão subjugada, não conseguia nem se matar. O filme arrebatou centenas de prêmios por aí. Filme obrigatório! 
Jared Leto e Matthew McConaughey estão excelentes em Clube de Compras Dallas
2. Melhor Ator Principal: Todos os atores indicados são um show (mas eu trocaria Chiwetel Ejiofor por Joaquin Phoenix), mas acho que o prêmio vai mesmo para Matthew McConaughey (pesquise na net como pronunciar o nome dele). O cara ficou magérrimo e muito mais feio para ficar parecido com o cara da história real, Ron Woodroof, um homem que para lutar contra a AIDS traficava medicamentos, no final dos anos 1980. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club) é aquele tipo de filme que fica na memória por seu realismo e questionamentos.

Cate Blanchett exibindo elegância numa personalidade troncha
3. Melhor Atriz Principal: Tirando a esquisita indicação de Sandra Bullock, todas as outras quatro atrizes são fuderosas. Esse prêmio para atores que têm vagina (quero ver como vai ser quando aparecer uma atriz transexual ou travesti) costuma ser entregue às loiras mais sexies, mas acho que os decotes generosos de Amy Adams não serão suficientes para retirar o prêmio das mãos de Cate Blanchett, por sua bela, elegante, educada, inteligente e desequilibrada personagem de Blue Jasmine.

4. Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto parte o coração como a travesti soropositiva e viciada em Clube de Compras Dallas. Curiosamente, o personagem não existiu na vida real, fiquei sabendo desse babado aqui, onde lemos um texto bem interessante sobre o filme. Bradley Cooper só tá na lista porque é bonito. O destaque dele vem da atuação do excelente elenco de Trapaça (American Hustle), mas ele sozinho não é grande coisa não.

Cena cruel do sofrimento dos escravos, em soberba interpretação de Lupita Nyong'o
Alfonso Cuarón
5. Melhor Atriz Coadjuvante: Apesar das belezas estonteantes de Julia Roberts (Álbum de Família) e Jennifer Lawrence (Trapaça), e da doçura de June Squibb (Nebraska), parece que o prêmio deve ir para a beleza negra de Lupita Nyong'o por sua interpretação visceral de sua personagem humilhada. No lugar de Sally Hawkins (Blue Jasmine) eu colocaria Scarlett Johansson (a voz de Samantha, no filme Ela).

6. Melhor Direção: Alfonso Cuarón deve levar a estatueta pelo seu caro e aclamado pelo público Gravidade (Gravity). Não dá pra negar que é um filme diferente e bem interessante. Os outros indicados, apesar de excelentes, são filmes de formato mais comum.

7. Melhor Roteiro Original: Vale a pena assistir a todos os indicados desta categoria. São todos filmes com estórias bem interessantes, diferentes e tocantes. Provavelmente, Spike Jonze vai levar a estatueta pelo excelente roteiro do filme Ela (Her). Pois Ela já vem ganhando este prêmio nesta categoria em outros festivais de cinema.


Bom, como não vi todos os desenhos animados indicados e nem todos os de língua estrangeira, vou chutar Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) e o italiano A Grande Beleza (La Grande Bellezza), respectivamente.
Antes de ver a foto dele eu jurava que Spike Jonze era negro... mas não me pergunte o porquê!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Segurança é para quem vive na prisão

Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin

 

 

─ Muito bem, agora vocês têm um bom emprego. Não se metam em confusão e terão segurança para o resto de suas vidas.

 


 

Segurança? Isso é algo que você pode conseguir na cadeia. Três metros quadrados, nada de aluguel a pagar, nenhum bem de consumo, imposto de renda, criança para sustentar. Nenhuma taxa de licenciamento de carro. Nenhuma multa. Nenhuma detenção por dirigir bêbado.
Prisão de Guatánamo, 2002
Nenhuma perda nas corridas de cavalo. Assistência médica gratuita. Camaradagem com aquelas pessoas com os mesmos interesses. Igreja. Enterro grátis.


by Charles Bukowski (1920-1994), in Cartas na Rua (1971)

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013 → Perspectiva 2014

Resolvi fazer um balanço anual da minha vidinha mais ou menos. Sigo o clima do calendário civil gregoriano, embora ache muito mais lógico fazer este tipo de reflexão no período do nosso aniversário, por ser esta a coincidência biológica, a vida de fato. Por outro lado, fazer balanço de vida no dia do nascimento parece coisa de gente chata que não gosta de festejar.

Transei menos e amei menos ainda, pelo menos no sentido de eros. Deve ser coisa da idade. Mas acho que amei mais no sentido de ágape. Aprofundei amizades e fiz novos amigos. E reconheço que é preciso maturidade para ter tolerância e amar o diferente e, mais ainda, quando se trata de amar gente mesquinha. Isso mesmo, porque amar o mau não significa amar o mal. Mas ainda estou longe daquele nível espiritual que não se incomoda com a pequenez alheia. Incomoda-me a ponto de me fazer adoecer...

Literariamente, 2013 foi de uma pobreza monumental. Só concluí a leitura de três livros! =/ Entretanto,
nas últimas semanas me dei conta de que o meu prazer pela leitura diminuiu com a visão, que começou a falhar. Por outro lado, ganhei uma obra 3 em 1 de Bukowski no natal deste ano!!! =) Felicíssimo com o presente de minha irmã mais nova.

Cinema foi bem rico, vi 139 filmes, sendo 30 nacionais! =) Filmes que me arrependi de não ter visto foi Flores Raras (nacional) e Azul é a Cor Mais Quente, filme francês que ganhou a Palma de Ouro 2013 (Este festival gosta de premiar filme uó, mas eu tenho que ver para poder falar mal depois! #vício). Difícil mesmo é classificar o melhor filme. Destacaria 3 brasileiros: O som ao redor, de Kléber Mendonça Filho, como melhor alternativa (acabei de criar esta categoria, já posso montar um festival! =D), Minha mãe é uma peça, de André Pellenz, como melhor comédia, O tempo e o vento, de Jayme Monjardim, como melhor drama, o melhor ator foi Irandhir Santos pelo personagem Clécio, em Tatuagem, de Hilton Lacerda (curiosamente um excelente roteirista e um péssimo diretor, #Freudexplica). E a melhor atriz foi Sophie Charlotte pela personagem Tereza, em Serra Pelada, de Heitor Dhalia. Aí você chega e joga na minha cara que Glória Pires é tudo o que há de bom na dramaturgia, que ela foi o máximo em "Flores Raras"... aí eu abro os braços, com lágrimas nos olhos, e grito: Fuzilem-me! Eu não vi esse filme! :'(

Irandhir Santos, em Tatuagem.
Só fui ao teatro uma vez, precisamente há 10 dias, pra ver a estreia de um amigo meu nos palcos. Achei a peça tão interessante que até escrevi sobre ele aqui.

Profissionalmente foi um ano de mudanças. Trabalhava na Secretaria de Finanças como gerente de planejamento (embora planejasse nada, daí a estranheza desse título de nobreza! rs), a gerência foi extinta, fui para a RECIPREV como presidente de comissão de licitação (#medo!) e 7 meses depois fui para a Fundação de Cultura da Cidade do Recife como gerente de licitações e contratos. Confesso que fiquei bem estressado no início, e hoje ainda me sinto inseguro quanto a se serei capaz de cumprir um bom papel na FCCR, mas tenho que ser como aquele povo hebreu que precisou enfrentar as dificuldades para chegar na terra da promessa: através da fé em algo melhor, abrir o mar das incertezas e seguir em frente!
O som ao redor, de Kléber Mendonça Filho

Sinto-me espiritualmente melhor também, sou mais amigo dos anjos e fiz outros anjos amigos!

Para 2014 eu farei o seguinte:

Vou no oftalmologista (a visão cansada está atrapalhando minha vida) e no urologista (tô com uma irritação uretral leve e insistente que dura meses! Será clamídia? Será um câncer? Gosto de pensar no pior, porque se não for o pior fico feliz... rs)

Vou cumprir a meta de ler pelo menos 12 obras ao ano... é pouco para padrões suecos, mas tô no Brasil! =)

Vou ver se consigo ver pelo menos 250 filmes! =)
Sophie Charlotte, em Serra Pelada.


Ser mais íntimo de Deus!

E quanto à vida afetiva-sexual? Este é um ponto sensível na vida de qualquer pessoa, mas não gosto de criar expectativas, nem fazer planejamento estratégico ou apelar pra Santo Antônio... melhor destruir as barreiras mentais e deixar a vida fluir e me levar a experiências que vão me amadurecer ainda mais como pessoa. O difícil é constatar que barreiras invisíveis, quais gaiolas mentais devem ser abertas, para não cair na cilada comum da autossabotagem!

Acho que lá pelo final de 2014 devo estar comprando minha casa! =)

E pra finalizar, desejo ganhar sozinho a mega sena da virada! B-) #Egoísmo

Não parem de me fuzilar até eu ver este filme! =)


domingo, 22 de dezembro de 2013

The Célio Cruz Show


Poster emblemático!

Meu amigo Luiz Carlos, psicólogo que deu na telha de ingressar nas artes cênicas, convidou-me para sua estreia nos palcos, na obra "The Célio Cruz Show", texto de Newton Moreno e direção de Wellington Jr, lá naquele teatro escondidinho nos casarões da Rua Benfica, o Joaquim Cardozo. Parece que toda peça experimental estreia ali.

A obra já existe há um tempo. Pelo que li na net, houve uma leitura dramática na UNICAP em maio de 2011, promovida pelo professor Robson Teles.

Óbvio que eu fui para a primeiríssima sessão porque acho que tudo que é virgem tem outra emoção. Dava pra sentir o cheiro do nervosismo da estreia naqueles jovens atores. E quase que fiquei sem ingresso, porque resolvi comprar na hora, acostumado à ausência de público para as peças locais. Também sou desses que vai pouco ao teatro. #ProntoFalei

A obra é uma sátira pesada sobre os programas televisivos que exploram a diferença, em especial a homossexualidade (chamada propositalmente de homossexualismo), apenas para elevar a pontuação do IBOPE, sem nenhuma reflexão sobre a realidade que leve o telespectador a uma maturidade política sobre a diversidade sexual humana. Não! Numa sociedade do espetáculo, o programa quer mesmo é trazer à tona o tema de maneira chula, ridicularizante, como se os sexualmente diferentes fossem uns anormais dignos de serem apresentados num circo.

Pior é que a plateia participa, e a gente ri, mas quando paramos para pensar, é uma comédia amarga, e nossos risos são autênticos e nervosos. É uma provocação contra a violência de certos programas que exploram a dor alheia para garantir audiência a qualquer preço.
Personagem Mara Armavara.

Pensando bem, até nas chamadas "Paradas da Diversidade", onde dizem que o objetivo é trazer visibilidade da diversidade sexual para o campo dos direitos civis, o que mais se comenta é o lado chulo e ridículo. Uma pena que um movimento político tão importante se destaque mais pelos travestis e bofes musculosos de boate gay. Verdade seja dita: o lixo mental vende que é uma beleza!

Com um texto assim, você não imagina que a peça será apresentada por iniciantes do teatro, né? Mas não foi essa a opinião do professor de teatro e diretor Wellington Jr. O cara é super corajoso e ousado, e teve a sabedoria de avisar antes do início, num preâmbulo interessante, que ali não era bem um espetáculo, era como um laboratório, onde vários erros poderiam acontecer, inclusive ele poderia interferir a qualquer momento.

Confesso que fiquei apreensivo com a demora inicial de 15 minutos depois do horário e vendo os atores pulando e dançando ao som de "Maria Sapatão" me fez pensar que a obra seria por demais amadora... Todavia, quando a apresentação começa, com o famigerado Célio Cruz interagindo com a plateia, vai me dando uma agonia porque eu morreria de vergonha se ele apontasse o dedo pra mim e me perguntasse se eu sou gay ou se eu iria encarar a bela atriz ali do palco! Agora lembrando dou risadas! =D

O formato do Teatro Joaquim Cardozo não ajuda muito para montar um cenário de auditório de TV, e um refletor que piscava bem no olho da gente na hora da troca de atores também cansava. Os atores que ficavam no alto imitando dançarinos de auditório só podiam ser visto por quem estava nas primeiras fileiras.

Antes da depilação!
Todavia, de um modo geral, foi uma apresentação digna, interessante e provocativa. Só não gostei da finalização, que ficou fora do ritmo da obra como um todo. Acho que aquele finalzinho deveria ter sido no palco mesmo.

Bom, mas a surpresa mesmo foi entrar e ver meu amigo Luiz Carlos maquiado, corpo depilado e usando uma sunga boxer. Veio me abraçar com tanta naturalidade que nem notei que ele andava usando um salto alto. Gente, até isso o menino aprendeu!!! Pois é, e ele interpretou dois personagens diametralmente opostos: uma mulher transexual muito bem resolvida e o apresentador Célio Cruz, um homossexual hipócrita e tão enrustido que, ao admitir que amava Bruno, diz que voltaria pra ele, desde que ficasse bem claro que ele não era gay!(?) Na vida real e concreta isso existe, pois lembro de uma conhecida lésbica que me contou sobre um antigo relacionamento que durou uma década e a outra não se considerava lésbica (!!!). Aí você diz "então, tá!", e encerra o assunto que se anula por si mesmo.

Sei que elogio de amigo não deve valer muita coisa, mas pra mim ele foi o melhor ator da apresentação. Para um aluno iniciante, Luiz Carlos Filho demonstrou dedicação e coragem, o que denota não só maturidade para este tipo de arte, mas também sensibilidade para aceitar o personagem como ele é, sem preconceitos e barreiras.

Recomendo com entusiasmo para quem vê o Teatro muito mais que um simples entretenimento, mas também como fonte de provocações.

OBS: Imagens públicas da página do Facebook. =)

domingo, 20 de outubro de 2013

Voltando a escrever

Caramba, faz mais de oito meses que escrevo nada aqui. Confesso que tenho preguiça mesmo. E sempre que me acontecem coisas novas parece que toda minha energia fica focada nos novos acontecimentos, especialmente no campo profissional.

Como sou funcionário público de entidade do Poder Executivo, quando muda o chefe parece que mudam também os relacionamentos e passamos a viver numa nova estrutura de poder e convivência.

Agora, por exemplo, trabalho em outra organização, assimilando novas experiências, e no meu novo trabalho não vivo  mais tão pendurando ao telefone! =)

Logo, minha foto deve ser alterada, representando o novo momento.

Voltei a me exercitar regularmente, comecei a aprender a tocar violão, retornei ao cinema quase que diariamente, a cozinhar e ir à praia nos fins de semana... mas estou devendo na leitura. Li só três livros este ano, e minha meta é ler no mínimo 12 por ano.

Não, não penso em comprar carro nem aprender a dirigir.

Mas tenho pensado em fazer uns exames médicos.

Mas escrever é muito bom, temos muitas ideias e no ciberespaço essa troca de conhecimentos e sentimentos através da escrita é bem dinâmica e estimulante. Sem contar a infinidade de imagens. Hoje fazemos comentários com imagens, ninguém pensava nisso há poucos anos atrás. E a criatividade com fotos, figuras e vídeos chega ao infinito.

Dizem que a Primavera Árabe se fortaleceu com a Internet. Não é incrível? Se for verdade, é incrível mesmo! A Internet também é um campo fértil para manipulações de informação e divulgações de falsidades.
Igual como era para uma grande emissora de TV na década de 1980.

Mas como eu gosto de melhorar o mundo, prefiro me dedicar a divulgar a verdade, porque, como dizia Jesus, a verdade liberta! Então vamos aprender mais Ciência e sempre verificar a fonte de informações, principalmente daquelas notícias mais absurdas. E vamos abrir nossas mentes para entender outros pontos de vista, racionalizar faz um bem enorme. E olhe que nem tô falando de amor, a tecnologia mais sofisticada do Universo!

Inté! =)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Olinda Sexual Friendliness

Eu e minha irmã mais velha
Ontem fui pra Olinda porque sou integrante do bloco Segura o Treko, de meu irmão mais velho. Pra mim carnaval sempre foi uma festa muito família, daí não consigo associar carnaval a pegação, embora seja inegável que é uma festa onde a sensualidade esbanja.

Depois que nosso "desfile" acabou, quando retornamos à sede (casa de meu tio Lulinha), resolvemos de repente dar uma volta nas ladeiras de Olinda, e tivemos a péssima ideia de seguir pela rua do Amparo, rua 13 de Maio, que estava muito apertada, e encontramos uma saída e escapamos pela rua da Boa Hora.

Todo mundo sabe que em Olinda a festa é bem sexual friendly,  você pode ser de qualquer gênero ou orientação sexual, se você estiver a fim, vai encontrar alguém pra beijar na boca. E se você estiver bem bicado, todo mundo vai ficar bonito.

Há décadas que a rua 13 de Maio tem a fama de ser ponto de encontro gay do carnaval olindense. Todavia, a realidade é que toda a cidade patrimônio histórico é respeitosa com os gays durante o ano todo. Olindense é gente boa, não quer luxo nem lixo, só quer saúde pra gozar no final.

Mas é curioso como alguns ficam chocados ao verem pessoas de mesmo sexo se beijando (aparentemente só tinha a combinação HxH, aquela fantasia erótica masculina de duas mulheres gatíssimas se beijando não existia ali). Se fossem homens brigando, fazendo arruaça, perturbando a festa... mas não, que horror, eram homens se beijando!!!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Cinema, Livros e Carnaval

Graças a ter poucos amigos consigo ir ao cinema e ler livros durante o período da melhor festa popular do planeta. Minha agonia é que a data é muito próxima da festa de Oscar, e eu fico doente se não ver todos os indicados às principais categoria, principalmente depois que passei a escrever num blog sobre cinema: http://viciodecinema.blogspot.com.br.

O carnaval é lindo, o cinema é lindo e "a vida humana, toda vida humana é uma poesia" (Lou-Andreas Salomé).

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sexo@Cidade, para gostar de ler

Sexo@Cidade, para gostar de ler

No final do ano passado ganhei da Secretaria de Turismo da Prefeitura do Recife um exemplar de Sexo@Cidade, de Flávia de Gusmão. Foi o melhor agrado que recebi dessa instituição (a prefeitura) para a qual trabalho desde 2007. Teve um ano que essa mesma secretaria me deu um panetone vagabundo (coisa ruim não esquecemos jamais!). Não consigo pensar mal de quem não me presenteia... mas se me der presente ruim, não espere vibrações positivas!

Flávia de Gusmão deve ter um monte de fãs, especialmente em Recife. Sou leitor de suas colunas gastronômicas e das crônicas Sexo@Cidade, que começou em dezembro de 2000. Passados 12 anos, evoluímos juntos como pessoas, a colunista e seus leitores.

Muita gente acha a coluna com teor feminista, mas eu acho que vai muito além disso. Ela sabe comentar as realidades das relações humanas de maneira tão tragicômica, que qualquer pessoa pode se identificar. O personagem camixa-xadrez, espetava de forma bem-humorada o macho previsível, de comportamento machista padronizado.

Inteligência também se caracteriza por visão realista, sensibilidade e bom humor. Essas qualidades de Flávia de Gusmão transparecem num texto sério, verdadeiro, bem-humorado e até tocante, nos provocando reflexões sobre a frondosa árvore da solidão humana.

O maior mistério é a escolha do número cabalístico 101, quando ela deve ter escrito mais quinhentas crônicas. Esse é aquele tipo de livro para a coleção “Para gostar de ler”. Recomendo com entusiasmo!

domingo, 3 de junho de 2012

Infiel, a história de uma mulher que desafiou o islã, de Ayaan Hirsi Ali.



"Eu sou Ayaan, filha de Hirsi, filho de Magan, filho de Isse, filho de Guleid, filho de Ali, filho de Wai'ays, filho de Muhammad, filho de..." Não, não se trata de uma genealogia bíblica, mas de uma menina somali de cinco anos que em plena década de 1970 responde a uma simples pergunta de sua avó: quem é você? Aos poucos, com persuasão e surras, ela aprenderá a recitar a genealogia de seu pai até o grande clã Darod, oito séculos atrás. E assim obterá o conhecimento mais importante de sua vida: a linhagem, sem a qual não será nada. É assim nesse mundo tribal, clânico e muçulmano que Ayaan nasce, cresce, tem o clitóris extirpado aos cinco anos de idade, é chamada de prostituta e esmurrada pela mãe quando chega sua primeira menstruação, e tem o crânio fraturado por um pregador do Alcorão que a obriga a decorar o texto sagrado em árabe, língua que não entende.


Mas Ayaan também é filha de um importante opositor da ditadura de Siad Barré, e sua família é obrigada a se exilar da Somália. E assim ela conhece os rigores do islamismo da Arábia Saudita (onde mulher não entra no país nem sai à rua desacompanhada de homem), o cristianismo monofisista da Etiópia e a salada cultural do Quênia, cada país com calendário próprio e escolas em idiomas diferentes. Na adolescência, para manter sua identidade diante de tanta diversidade cultural, ela se aferra ao islamismo e chega mesmo a aderir ao fundamentalismo mais radical. Mas a perspectiva de passar o resto da vida ao lado do desconhecido com quem foi obrigada a se casar acaba por levá-la à fuga e ao exílio no Ocidente.


Infiel é a autobiografia dessa mulher extraordinária que superou todas as barreiras familiares, sociais e religiosas impostas ao sexo feminino e passou a lutar destemidamente pelo direito das mulheres muçulmanas e pela reforma do islã. Sua coragem valeu-lhe uma eleição para deputada na Holanda, mas também a condenação à morte pelos radicais islâmicos, que veio na forma brutal de uma carta cravada com faca no peito do seu amigo Theo Van Gogh, cineasta com quem fizera o curta Sumissão em 2004, sobre a opressão da mulher no islamismo. Convertida aos ideais iluministas liberais do Ocidente, ela recriou sua identidade em muitos sentidos, concebendo inclusive uma nova ideia do que é um indivíduo fundamentalmente livre.


AYAAN HIRSI ALI nasceu em Mogadíscio, capital da Somália, em 1969. Em 1992, exilou-se na Holanda, onde foi eleita deputada em 2003. Ameaçada de morte, foi obrigada a abandonar a Europa e vive atualmente nos Estados Unidos. Em 2005, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo.


Copiei o texto acima das orelhas do livro porque acho que ele diz basicamente toda a história.


Esse é um daqueles livros raros e impactantes que nos marcam para sempre. Não há como não ficar pensando sobre as palavras dessa mulher. Impossível ficar indiferente. Recomendo esse livro para todas as pessoas interessadas em direitos das mulheres, política e religião.


No quesito política, este livro nos insta a repensar sobre ideologias e práticas políticas como cidadão e como agente político.


Em relação à religião, a autora evoluiu de uma devota muçulmana radical ao ateísmo, nos convidando à repensar sobre qual são nossas fundamentações para aderir a certas crenças e crendices.


Abaixo o curta Submissão - Parte 1. A oração está em árabe e as falas em inglês. Para facilitar quem não domina nenhum dos idiomas, as legendas estão em holandês! =D





domingo, 27 de maio de 2012



Quando o Rótulo não Condiz com o Produto


NAMRADOS PARA SEMPRE – uma verdadeira história de amor

Aclamado pelo público e pela crítica mundial, este é um retrato íntimo de um relacionamento que está em franca desintegração. Com um romance outrora cheio de paixão, Cindy e Dean são casados e têm uma filha de cinco anos. Na esperança de salvar o seu casamento eles reservam um quarto no motel, relembrando anos atrás quando se conheceram, se apaixonaram e fizeram seus primeiros planos cheios de vida e esperança. Movendo-se de forma fluida entre o passado cheio de juventude e o presente da vida adulta, o filme se desdobra como um dueto cinematográfico cujo refrão pergunta sem parar: “para onde foi o nosso amor?” A resposta para esta pergunta está dispersa no tempo e nos personagens... Indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro 2011.

As partes em itálico são falsas.

Michelle Williams concorreu ao prêmio de melhor atriz no Oscar e no Globo de Ouro, nos dois eventos perdeu o prêmio para Natalie Portman. Já o Ryan Gosling concorreu ao Globo de Ouro por melhor ator, perdendo para Colin Firth (que também ganhou Oscar).

O filme teve, de fato, um monte de indicações em dezenas de festivais de cinema, mas só foi premiados em dois, de menor importância.

Antes de tudo, um resumo do filme:

Uma adolescente doce-amarga
Logo no início dá pra notar que a relação do casal ruma para o seu colapso neste drama independente de Cianfrance Derek (É independente só porque estreou no Sundance Film Festival). Dean (Ryan Gosling) conhece Cindy (Michelle Williams) quando eles devem ter uns 18 anos. No momento que se conheceram ele estava trabalhando para uma empresa de mudança e ela era uma estudante universitária visitando a avó que residia em um lar para idosos. Cindy namorava Bobby (Mike Vogel), seu namorado de escola, mas depois ela conhece Dean, uma atração mútua cresce entre eles. Dean e Cindy se casam e têm uma filha, Frankie (Faith Wladyka). Cindy não tem certeza da paternidade da menina, mas acha que o pai mais provável é Bobby. Mesmo ciente de que não deve ser o pai biológico, Dean ama a sua filha, porém se sente distante de sua esposa. Está claro que eles não são mais felizes como antes. Para tentar reacender a paixão, Dean aproveita um desconto pra dormir num motel com a esposa – que demonstra estar nem um pouco a fim. Cindy e Bobby esbarram-se por acaso numa loja de bebidas e surge um clima tenso entre eles. Bobby age como se ainda a desejasse e desprezasse ao mesmo tempo perguntando se ela é uma esposa fiel. Dean e Cindy vão para um motel barato, onde percebe-se claramente não haver mais sintonia entre os dois. Cindy tinha avisado que estava de prontidão e recebe um chamado do trabalho logo cedo, então ela vai embora para o trabalho antes do marido acordar. Ele fica indignado, embriaga-se e vai discutir com ela no trabalho. Depois de muitos gritos, desabafos e um soco na cara do chefe da esposa – que a demite – eles vão para casa do pai dela, pois a filha dormiu lá, onde terão uma conversa triste. Não fica claro que o fim do relacionamento é definitivo, pois ele vai embora quando ela se queixa de falta de espaço.
Este envelheceu 15 anos em 5!

O filme começa com o presente (casamento em ruínas) mas fica fazendo flashbacks de quando eles se conheceram e começaram a namorar. No início não dá pra decifrar onde está o passado e o presente. Mas depois de ver quatro vezes entendi que Cindy de cabelo preso é a enfermeira dedicada, mãe cansada e esposa entediada do presente. Cindy de cabelo solto é a adolescente estudiosa e doce-amarga do início da estória.

Já o Dean tem mais cabelo no passado, e parece ter envelhecido uns 15 anos em apenas cinco para chegar ao presente. Fizeram uma maquiagem horrorosa em Gosling deixando ele com uma testa protuberante e uma barba feiosa para diferenciar do Dean mais jovem e solteiro.

E onde está a propaganda enganosa do rótulo?

Momento mais belo e romântico do filme
Começa com a tradução do título: Blue Valentine tá longe de significar amor eterno. Muito pelo contrário, é um namoro triste. E o filme é exatamente sobre isso: um amor que acabou e a relação ficou cansativa e desinteressante, especialmente para a mulher, pois ela não o vê mais como um homem atraente e admirável. Transparece nos diálogos que ela o acha um cara medíocre, perdedor e, lá dentro do motel, ela sente absolutamente nenhum tesão pelo marido.

Realmente, o Dean parece não ter amadurecido como homem. Nota-se pela forma como ele lida com a filha no café da manhã e sua vidinha não passa de uma mistura de preguiça com falta de perspectiva. Apesar de inteligente e talentoso, nem terminou o nível médio e sua renda é viver como pintor de paredes. Tá sempre sujo de tinta, nem aí pra aparência e higiene.

Um outro engano do rótulo é sugerir que eles reservam um quarto de motel pra relembrar o passado.

O Dean praticamente obriga a Cindy a passar um fim de semana com ele num motel fora da cidade.

Sabe aquele encontro brochante?
Lá no motel ela tá nem um pouco a fim. Depois de tomar um banho e beber um pouco, os dois até conversam, mas a conversa não prospera para algo significativo. Então brincam um pouco. Ele tenta fazer amor com ela, mas ela demonstra que só transaria com ele à força, como se estivesse sendo estuprada. Enfim, foi uma brochada geral. Não havia química, física nem biologia que salvasse a intimidade do casal.

Imagino que alguns casais desavisados optaram pra ver o filme pensando ser um filme romântico perfeito pra comemorar datas especiais. Pior ainda, se um cara quer impressionar a mulher com um filme "romântico" desses... ela vai dispensá-lo na hora!

domingo, 6 de maio de 2012


Dublagens Limpinhas

Sabemos que os brasileiros, em geral, não formamos uma sociedade pudica que morre de vergonha de falar palavrão. Mesmo em ambiente de trabalho é comum ouvirmos “porra”, “caralho”, “tomei no cu”, “to fodido”, “puta que pariu”.

Então, por qual razão misteriosa as dublagens dos filmes em inglês para o Brasil são tão pudicas?



Cameron Diaz, in Bad Teacher
Assisti à comédia “Professora Sem Classe” (Bad Teacher, EUA, 2011), de Jake Kasdan, no cinema, onde a professora desclassificada (e desbocada) do título (Cameron Diaz) fica puta da vida porque tem que ir à escola no sábado e usa a expressão fucked my ass (tomei no cu), da tradução saiu o inocente me dei mal. A versão dublada saiu tão pudica que perdeu a graça, o trailer era muito mais provocante.





Na obra Winter's Bone, (EUA, 2010), de Debra Granik, que tiveram o mau gosto de colocar o título nada a haver “Inverno da Alma”, há um momento em que a protagonista (Jennifer Lawrence, que concorreu ao Oscar de melhor atriz pelo papel) diz my ass you will, se referindo à proposta de Blond Milton de cuidar do irmão dela, aí traduziram pudicamente: nem me matando. O certo seria: meu cu que você vai cuidar dele! O próprio contexto de uma família de gente pobre e marginalizada já seria o suficiente para sustentar uma tradução mais próxima do original.
Jennifer Lawrence, in Winter's Bone



Annette Bening, in The Kids Are All Right
Na dramática comédia “Minhas Mães e Meu Pai” (The Kids Are All Right, EUA, 2010), de Lisa Cholodenko, a personagem Nic (Annette Bening - ainda acho que ela merecia mais o Oscar do que Natalie Portman no ano passado) diz o quanto despreza as observações de Paul: I need your observations like a need a dick in my ass. Traduziram lindamente: E eu preciso disso como eu preciso de uma paulada na cabeça! A ideia original, um pau no meu cu, soa muito mais autêntico e genuíno para uma personagem lésbica de personalidade forte como Nic.

Aí vem a pergunta que não quer calar: de onde tiraram a noção de que é melhor filme sem palavrão?

Por outro lado, já constatei um estranho comportamento em gente que fala “porra, caralho, buceta, puta que pariu, vai tomar no cu” assim, como quem diz “oi, tudo bem”, me dizer que não gostou de tal filme porque falava muito palavrão... pense!

domingo, 29 de abril de 2012

Atração Perigosa é mais um grande sucesso...

de crítica comprada



Atração Perigosa (The Town, EUA, 2010), de Ben Affleck. Rottentomatoes: 94%, IMDB: 7,6

AVISO: eu conto o final e outros detalhes.





Trama: Doug MacRay (Ben Affleck) lidera um grupo que assalta bancos e carros fortes na cidade de Boston. O grupo é de uma gang de descendentes de irlandeses que vive na comunidade de Charlestown. Logo no início somos avisados que Chalestown é o maior produtor de assaltantes de banco do planeta, e que essa “atividade econômica” é comumente passada de pai pra filho. O próprio Doug é filho de um perigoso assaltante mas perdeu sua chance de seguir o caminho do bem, passando pelo vício de drogas e depois “graduou-se” como assaltante de banco profissional.

Temos várias visões panorâmicas do bairro como se este fosse o ponto turístico mais lindo dos Estados Unidos.

Depois do preâmbulo avisando que estamos conhecendo um ninho de cobras, digo, de assaltantes de banco, vemos o grupo dando os últimos ajustes para um assalto planejado a tempos. Logo em seguida o assalto, onde o assaltante James Coughlin (Jeremy Renner, concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel), arrasta como refém a gerente lindinha e insossa Claire Keesey (Rebecca Hall, a Vicky de “Vicky Cristina Barcelona”), para depois soltá-la na beira da praia.

Visto que eles ficaram com sua habilitação, sabem onde ela mora e percebem que são vizinhos. Jem (apelido de James) pretende segui-la para talvez aterrorizá-la mais ainda com o fito de prevenir alguma possibilidade de que ela os entregue à polícia. Então o bonitão Doug toma a frente e resolve que quem vai cuidar disso é ele. Ele a segue e simula um encontro casual só pra ter certeza de que ela não o reconhece. Ocorre que o bandido se apaixona pela mocinha, e ele passa a desejar sair desse mundo do crime. Todavia, os parceiros do crime são como uma família substituta para Doug, cheias de juramentos e dívidas passadas.
Esse almofadinha convence que ele é um cara durão?

Tudo poderia dar certo, visto que Claire mostra-se disposta a sair dali e mudar de vida com Doug (que ela nem suspeitava ser bandido). Mas estorinha de amor com enredo fácil não tem graça, né? O agente almofadinha do FBI Adam Frawley (Jon Hamm), está vigiando até a própria Claire e o principal agente do crime, o florista Fergie (o ótimo Pete Postlethwaite) pressiona Doug para que este continue no crime e sob o comando dele.

Com ótimas perseguições de carro e muito tiroteio, o filme é bem o gosto americano.

E por que eu não gostei?

Bom, não há nada de original na trama, tem ótimas cenas de ação, o som é bom, a estória é previsível mas é bem contada... e só!

Única expressão facial de Affleck
O que derruba este cine-entretenimento é que nenhum dos atores principais interpreta! A cara de Affleck é a mesma do início ao fim. Nem num momento dramático em que ele conta sobre o dia em que a mãe dele desapareceu há alguma expressão facial. A lindinha Rebecca Hall mal sustenta uma personagem sem sal e sem profundidade, além de sequer saber fingir que tá chorando! Aliás, o romance entre os dois parece daqueles de lésbica com gay, não convence ninguém que ali há um relacionamento amoroso e sexual. E o agente do FBI, todo machão e às vezes violento, é arrumadinho demais para o personagem.

Outro cacoete estranho é que Doug gosta de ficar olhando os aviões riscando o céu... isso quer dizer o quê?

Além desse problemas de composição de personagens e da mediocridade do casal Affleck/ Hall, o final é de gosto duvidoso com um toque de bizarrice:

Pense num casal sem tesão!
Mocinha encontra enterrado no jardim comunitário uma bolsa com um dinheirão roubado, uma cartinha de despedida do bandido-amante e... uma tangerina (!!!). Teve gente que disse que eles tinham combinado se mudar pra uma cidade com nome de fruta (não há esse diálogo no DVD). Curioso é que a mocinha vai direto onde está o roubo escondido (deve ser ali a única área onde ela escava a terra, pois o canteiro é grande), daí a tangerina escondida embaixo de pacotes de dinheiro não se encontrar apodrecida. Aparentemente sem pestanejar, ela doa todo o dinheiro pra instituição educativa para crianças de Charlestown, em homenagem à mãe desaparecida do bandido. Dinheiro roubado não deveria ser devolvido?

Olha como o bandido arrependido sofre!
Bem, o bandido termina numa casa tranquila na beira de um lindo lago! Tadinho, sofrendo tanto porque não pode ficar com a amada! É verdade que o bandido já dava sinais de que estava se tornando um espírito mais iluminado, pois ele nem álcool tomava mais antes de conhecer a mocinha. Mas, entender que se afastar da namorada já é pagamento suficiente pelos crimes violentos que cometeu não é ser romântico demais?

Duvido seriamente que a aclamação da crítica foi comprada pela produção.

Suponho que deve acontecer o seguinte: compra-se os críticos que estão mais em alta, os outros seguem a onda. Porque certamente há muitos “críticos” que nem sequer viram o filme, mas para dar satisfação aos seus leitores ávidos por leitura, apenas copiam as opiniões da grande mídia.