domingo, 6 de maio de 2012


Dublagens Limpinhas

Sabemos que os brasileiros, em geral, não formamos uma sociedade pudica que morre de vergonha de falar palavrão. Mesmo em ambiente de trabalho é comum ouvirmos “porra”, “caralho”, “tomei no cu”, “to fodido”, “puta que pariu”.

Então, por qual razão misteriosa as dublagens dos filmes em inglês para o Brasil são tão pudicas?



Cameron Diaz, in Bad Teacher
Assisti à comédia “Professora Sem Classe” (Bad Teacher, EUA, 2011), de Jake Kasdan, no cinema, onde a professora desclassificada (e desbocada) do título (Cameron Diaz) fica puta da vida porque tem que ir à escola no sábado e usa a expressão fucked my ass (tomei no cu), da tradução saiu o inocente me dei mal. A versão dublada saiu tão pudica que perdeu a graça, o trailer era muito mais provocante.





Na obra Winter's Bone, (EUA, 2010), de Debra Granik, que tiveram o mau gosto de colocar o título nada a haver “Inverno da Alma”, há um momento em que a protagonista (Jennifer Lawrence, que concorreu ao Oscar de melhor atriz pelo papel) diz my ass you will, se referindo à proposta de Blond Milton de cuidar do irmão dela, aí traduziram pudicamente: nem me matando. O certo seria: meu cu que você vai cuidar dele! O próprio contexto de uma família de gente pobre e marginalizada já seria o suficiente para sustentar uma tradução mais próxima do original.
Jennifer Lawrence, in Winter's Bone



Annette Bening, in The Kids Are All Right
Na dramática comédia “Minhas Mães e Meu Pai” (The Kids Are All Right, EUA, 2010), de Lisa Cholodenko, a personagem Nic (Annette Bening - ainda acho que ela merecia mais o Oscar do que Natalie Portman no ano passado) diz o quanto despreza as observações de Paul: I need your observations like a need a dick in my ass. Traduziram lindamente: E eu preciso disso como eu preciso de uma paulada na cabeça! A ideia original, um pau no meu cu, soa muito mais autêntico e genuíno para uma personagem lésbica de personalidade forte como Nic.

Aí vem a pergunta que não quer calar: de onde tiraram a noção de que é melhor filme sem palavrão?

Por outro lado, já constatei um estranho comportamento em gente que fala “porra, caralho, buceta, puta que pariu, vai tomar no cu” assim, como quem diz “oi, tudo bem”, me dizer que não gostou de tal filme porque falava muito palavrão... pense!

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