domingo, 22 de dezembro de 2013

The Célio Cruz Show


Poster emblemático!

Meu amigo Luiz Carlos, psicólogo que deu na telha de ingressar nas artes cênicas, convidou-me para sua estreia nos palcos, na obra "The Célio Cruz Show", texto de Newton Moreno e direção de Wellington Jr, lá naquele teatro escondidinho nos casarões da Rua Benfica, o Joaquim Cardozo. Parece que toda peça experimental estreia ali.

A obra já existe há um tempo. Pelo que li na net, houve uma leitura dramática na UNICAP em maio de 2011, promovida pelo professor Robson Teles.

Óbvio que eu fui para a primeiríssima sessão porque acho que tudo que é virgem tem outra emoção. Dava pra sentir o cheiro do nervosismo da estreia naqueles jovens atores. E quase que fiquei sem ingresso, porque resolvi comprar na hora, acostumado à ausência de público para as peças locais. Também sou desses que vai pouco ao teatro. #ProntoFalei

A obra é uma sátira pesada sobre os programas televisivos que exploram a diferença, em especial a homossexualidade (chamada propositalmente de homossexualismo), apenas para elevar a pontuação do IBOPE, sem nenhuma reflexão sobre a realidade que leve o telespectador a uma maturidade política sobre a diversidade sexual humana. Não! Numa sociedade do espetáculo, o programa quer mesmo é trazer à tona o tema de maneira chula, ridicularizante, como se os sexualmente diferentes fossem uns anormais dignos de serem apresentados num circo.

Pior é que a plateia participa, e a gente ri, mas quando paramos para pensar, é uma comédia amarga, e nossos risos são autênticos e nervosos. É uma provocação contra a violência de certos programas que exploram a dor alheia para garantir audiência a qualquer preço.
Personagem Mara Armavara.

Pensando bem, até nas chamadas "Paradas da Diversidade", onde dizem que o objetivo é trazer visibilidade da diversidade sexual para o campo dos direitos civis, o que mais se comenta é o lado chulo e ridículo. Uma pena que um movimento político tão importante se destaque mais pelos travestis e bofes musculosos de boate gay. Verdade seja dita: o lixo mental vende que é uma beleza!

Com um texto assim, você não imagina que a peça será apresentada por iniciantes do teatro, né? Mas não foi essa a opinião do professor de teatro e diretor Wellington Jr. O cara é super corajoso e ousado, e teve a sabedoria de avisar antes do início, num preâmbulo interessante, que ali não era bem um espetáculo, era como um laboratório, onde vários erros poderiam acontecer, inclusive ele poderia interferir a qualquer momento.

Confesso que fiquei apreensivo com a demora inicial de 15 minutos depois do horário e vendo os atores pulando e dançando ao som de "Maria Sapatão" me fez pensar que a obra seria por demais amadora... Todavia, quando a apresentação começa, com o famigerado Célio Cruz interagindo com a plateia, vai me dando uma agonia porque eu morreria de vergonha se ele apontasse o dedo pra mim e me perguntasse se eu sou gay ou se eu iria encarar a bela atriz ali do palco! Agora lembrando dou risadas! =D

O formato do Teatro Joaquim Cardozo não ajuda muito para montar um cenário de auditório de TV, e um refletor que piscava bem no olho da gente na hora da troca de atores também cansava. Os atores que ficavam no alto imitando dançarinos de auditório só podiam ser visto por quem estava nas primeiras fileiras.

Antes da depilação!
Todavia, de um modo geral, foi uma apresentação digna, interessante e provocativa. Só não gostei da finalização, que ficou fora do ritmo da obra como um todo. Acho que aquele finalzinho deveria ter sido no palco mesmo.

Bom, mas a surpresa mesmo foi entrar e ver meu amigo Luiz Carlos maquiado, corpo depilado e usando uma sunga boxer. Veio me abraçar com tanta naturalidade que nem notei que ele andava usando um salto alto. Gente, até isso o menino aprendeu!!! Pois é, e ele interpretou dois personagens diametralmente opostos: uma mulher transexual muito bem resolvida e o apresentador Célio Cruz, um homossexual hipócrita e tão enrustido que, ao admitir que amava Bruno, diz que voltaria pra ele, desde que ficasse bem claro que ele não era gay!(?) Na vida real e concreta isso existe, pois lembro de uma conhecida lésbica que me contou sobre um antigo relacionamento que durou uma década e a outra não se considerava lésbica (!!!). Aí você diz "então, tá!", e encerra o assunto que se anula por si mesmo.

Sei que elogio de amigo não deve valer muita coisa, mas pra mim ele foi o melhor ator da apresentação. Para um aluno iniciante, Luiz Carlos Filho demonstrou dedicação e coragem, o que denota não só maturidade para este tipo de arte, mas também sensibilidade para aceitar o personagem como ele é, sem preconceitos e barreiras.

Recomendo com entusiasmo para quem vê o Teatro muito mais que um simples entretenimento, mas também como fonte de provocações.

OBS: Imagens públicas da página do Facebook. =)

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