quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Deus está em suas mãos


Dois homens percorriam o deserto.

Eles puxavam um camelo que levava nas costas vários tipos de mercadorias.

Em determinado ponto, depois de enfrentarem as areias escaldantes por muitas horas, finalmente encontraram um oásis.

O mais velho diz: - Filho, vamos descansar aqui. Podemos dormir durante esta noite. Vou me deitar agora. Amarre o camelo bem firme e, depois, pode dormir também.
- Sim, mestre - respondeu o outro.

O jovem olhou para o camelo e, depois, para o céu estrelado.
De forma muito contrita, fez uma prece:
"Senhor, meu Deus, estou muito cansado agora para amarrar o camelo. Por favor, tome conta dele. Obrigado, meu Deus. Confio em Vossas mãos o nosso camelo".

Em seguida, foi deitar-se sob uma palmeira e adormeceu tranquilo.
A manhã surgiu com pássaros a cantar e raios quentes de sol.

De repente, alguns gritos cortaram a paz daquele dia que nascia.
- O camelo fugiu! O camelo fugiu! - berrava o mestre. - Você não o amarrou?

O rapaz acordou assustado, e olhando para o velho, disse:
- Mestre, durante vários anos aprendi com o senhor a confiar em Deus. Ontem à noite eu pedi a Ele que tomasse conta do camelo. Mas Ele não tomou...


O velho e sábio mestre, então, disse:
- As mãos de Deus na Terra são as suas. Confie em Deus, mas sempre amarre seu camelo... Creia, e faça a sua parte!

Autor desconhecido.


Feliz 2015!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

AIDS - Uma antiga mensagem da MTV




Neste Dia Mundial da AIDS, lembrei deste antigo comercial da MTV, que deve ter sido veiculado na TV há uns 20 e poucos anos atrás, onde esse texto declamado bem interessante, que não diz nada explicitamente, mas todos sacam que estavam falando sobre AIDS.

E como gosto de cinema, ilustro o texto com alguns personagens soropositivos que marcaram a Sétima Arte.


Telly não sabe que tem AIDS e só quer transar com virgens,
em Kids (1995)
Todo mundo quer comer,
Todo mundo quer beber,
Todo mundo quer dormir,
Você não quer?








O homofóbico Ron e a travesti Rayon unem forças na luta
 contra a AIDS e o sistema  farmacêutico em
Dallas Buyers Club (2013)
Todo mundo gosta de viajar,
Todo mundo gosta de sair,
Todo mundo gosta de ter amigos,
Você não gosta?






Richard está muito doente e antecipará a própria morte,
em The Hours (2002).
Todo mundo quer poder estudar,
Todo mundo quer poder trabalhar,
Todo mundo quer poder ter amor,
Então, por que não pode?





Judite está morrendo e esbanja alegria, maturidade
e força interior para encarar a vida em Boa Sorte (2014)
Evitar a doença não significa evitar as pessoas,
Informe-se e dê um fim no preconceito!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O ódio à democracia

Este ano eleitoral com eleitores tão acalorados, cheios de mensagens de ódio e boatos de toda sorte, e com uma imprensa que ajuda pouco para esclarecer à população, fiquei ainda mais interessado em Política. Mas um livro me chamou a atenção pelo seu título forte: "O ódio à democracia" (La haine de la démocratie, 2005), do filósofo francês Jacques Rancière, publicado este ano no Brasil pela Boitempo Editorial.

Estou longe de ser crítico literário e mais longe ainda de ser cientista político, mas vou dividir com a Internet (melhor admitir que ninguém lê esse blog mesmo... rs) algumas coisas que achei interessante.

Por exemplo, eu não imaginava que em meados do século XIX, o Manifesto Comunista (de Karl Max e Friedrich Engels) já acusava a mercantilização generalizada dos relacionamentos, quando todas as práticas profissionais tendem a se banalizar, perdendo seu horizonte político ou metafísico, transformando-se em mera relação contratual. Citemos como exemplo o profissionais mais sagrados e satanizados do Brasil: Os médicos e os professores. Quantos médicos e professores se sentem apenas meros prestadores de serviço? Quantos médicos e professores sentem sua profissão como uma missão especial para a Humanidade?

Eis o que diz o Manifesto: [a burguesia] afogou os fervores sagrados da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma única liberdade sem escrúpulos: a do comércio. [Ela] despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas como dignas e encaradas com piedoso respeito. Fez do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio seus servidores assalariados.

Um dos inúmeros problemas da educação nas escolas - a relação corpo docente x corpo discente, por estranho que pareça, tem a ver com a igualdade democrática: Não há mais lugar para nenhum tipo de transcendência, é o indivíduo que é erigido em valor absoluto e, se alguma coisa de sagrado persiste, é ainda a santificação do indivíduo, por meio dos direitos humanos e da democracia [...] Eis, portanto, por que a autoridade do professor está arruinada: por essa polarização da igualdade, ele não é mais do que um trabalhador comum, que se encontra diante de usuários e é levado a discutir de igual para igual com o aluno, que acaba por se instalar como juiz de seu mestre.

A democracia é tão perturbadora da ordem que até os animais ganharam o status de serem vistos como iguais. Quase todos os desenhos animados hoje defendem o direito deles e o movimento vegano parece estar ganhando força. Leiam esta pérola: A democracia é propriamente a inversão de todas as relações que estruturam a sociedade humana: os governantes parecem governados e os governados, governantes; as mulheres são iguais aos homens; o pai se habitua a tratar o filho de igual para igual; o meteco e o estrangeiro tornam-se iguais ao cidadão; o professor teme e bajula alunos que, de sua parte, zombam dele; os jovens se igualam aos velhos e os velhos imitam os jovens; os próprios animais são livres e os cavalos e os burros, conscientes de sua liberdade e dignidade, atropelam aqueles que não lhes dão passagem na rua.

Sobre a "dominação capitalista mundial" e a "tirania do consumo", o autor responsabiliza os
próprios indivíduos: Os indivíduos não são vítimas de um sistema global de dominação, mas os responsáveis por esses sistemas; são eles que fazem reinar a "tirania democrática" do consumo. As leis de crescimento do capital, o tipo de produção e circulação de mercadorias que elas comandam, tornaram-se simples consequência dos vícios daqueles que as consomem e, em particular, daqueles que têm menos meios de consumir. A lei do lucro capitalista reina sobre o mundo porque o homem democrático é um ser de desmedida, devorador insaciável de mercadorias, direitos humanos e espetáculos televisivos.



De fato, também discordo dessas ideologias que põem a culpa dos nossos males sobre o sistema. Quem faz o sistema somos nós, os vícios do sistema são alimentados por nossos próprios vícios. Precisamos aprimorar a nós mesmos para aprimorar a democracia. Acredito que o verdadeiro socialismo não consiste em partilhar bens materiais. Cada um deve ter a liberdade de viver como quiser e puder. O socialismo que acredito consiste em partilhar conhecimento e sabedoria, sem imposições. Já dizia Jesus: A verdade liberta.

Por isso cito as últimas linhas do livro: A coisa tem por que suscitar medo e, portanto, ódio, entre os que estão acostumados a exercer o magistério do pensamento. Mas, entre os que sabem partilhar com qualquer um o poder igual da inteligência, pode suscitar, ao contrário, coragem e, portanto, felicidade.


sábado, 17 de maio de 2014

3 em 1 Bukowski


Este livro foi uma excelente ideia de minha irmã mais nova para me presentear no natal 2013. Demorei um pouco pra começar a lê-lo porque precisava de óculos.

Queria ser do tipo que anota sempre as partes mais interessantes e provocativas para escrever uma resenha bem "profissa".

Bom, o que posso dizer é que a escolha da L&PM Editores por essas três obras ficou perfeita: Cartas na rua (Post Office, 1971), depois Mulheres (Women, 1978) e, por fim, O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio (The captain is out to lunch and the sailors have taken over the ship, 1994), é uma sequência perfeita, pois conta a história de um homem da maturidade até uma azeda velhice.

Os dois primeiros contam a história do alter ego Henry Chinaski e o último é do próprio autor destilando seu desprezo pela humanidade. Percebemos claramente que Chinaski e Bukowski se confundem, então dá pra você ficar conhecendo bem esse velho safado.

Bukowski não é literatura para boas moças nem rapazes direitos, é para quem encara a vida com sensibilidade.

Recomendo com entusiasmo!

sábado, 1 de março de 2014

Chutometria Oscar 2014

As cobiçadas estatuetas douradas!
Depois de tomar banho de manjericão e fazer a meditação da lua nova, fiquei pronto para receber as vibrações que irão revelar quais devem ser os ganhadores do Oscar, na festa de amanhã. Mas não me condenem se eu não acertar, pois nem macumbeira das boas consegue prever as indicações e resultados da premiação de cinema mais concorrida e subjetiva da História. Não conte muito com a lógica aqui.

Filme obrigatório!
Este ano não participei de nenhum bolão de apostas, e nem me dediquei a ler algo a respeito, mas pelo menos consegui ver com antecedência todos os filmes que concorrem às categorias principais: Filme, direção, atores e atrizes principais e coadjuvantes, e roteiro. Não vi todos os de animação porque moro no fim do mundo, e nem tudo chega por aqui. Gosto de ver os de língua não-inglesa, mas é dificílimo ver todos antes do dia da festa de premiação.

É curioso como 2013 parece que foi o ano dos filmes biográficos, tá cheio de dramas reais.

Ano passado expliquei aqui algumas coisas sobre essa premiação. Vamos à chutometria 2014:

1. Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), por ser o filme mais brutal do ano. A beleza do filme está em escancarar toda a feiura e estupidez que foi a época da escravidão. Melhor ainda, baseado num livro que contou a história real de Solomon Northup, um negro alforriado que foi sequestrado e vendido como escravo. É de revirar o estômago de tanto ódio com as atuações de Michael Fassbender e Sarah Paulson como o casal Epps, e a tristeza insuportável transmitida por Lupita Nyong'o como a escrava Patsey que, de tão subjugada, não conseguia nem se matar. O filme arrebatou centenas de prêmios por aí. Filme obrigatório! 
Jared Leto e Matthew McConaughey estão excelentes em Clube de Compras Dallas
2. Melhor Ator Principal: Todos os atores indicados são um show (mas eu trocaria Chiwetel Ejiofor por Joaquin Phoenix), mas acho que o prêmio vai mesmo para Matthew McConaughey (pesquise na net como pronunciar o nome dele). O cara ficou magérrimo e muito mais feio para ficar parecido com o cara da história real, Ron Woodroof, um homem que para lutar contra a AIDS traficava medicamentos, no final dos anos 1980. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club) é aquele tipo de filme que fica na memória por seu realismo e questionamentos.

Cate Blanchett exibindo elegância numa personalidade troncha
3. Melhor Atriz Principal: Tirando a esquisita indicação de Sandra Bullock, todas as outras quatro atrizes são fuderosas. Esse prêmio para atores que têm vagina (quero ver como vai ser quando aparecer uma atriz transexual ou travesti) costuma ser entregue às loiras mais sexies, mas acho que os decotes generosos de Amy Adams não serão suficientes para retirar o prêmio das mãos de Cate Blanchett, por sua bela, elegante, educada, inteligente e desequilibrada personagem de Blue Jasmine.

4. Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto parte o coração como a travesti soropositiva e viciada em Clube de Compras Dallas. Curiosamente, o personagem não existiu na vida real, fiquei sabendo desse babado aqui, onde lemos um texto bem interessante sobre o filme. Bradley Cooper só tá na lista porque é bonito. O destaque dele vem da atuação do excelente elenco de Trapaça (American Hustle), mas ele sozinho não é grande coisa não.

Cena cruel do sofrimento dos escravos, em soberba interpretação de Lupita Nyong'o
Alfonso Cuarón
5. Melhor Atriz Coadjuvante: Apesar das belezas estonteantes de Julia Roberts (Álbum de Família) e Jennifer Lawrence (Trapaça), e da doçura de June Squibb (Nebraska), parece que o prêmio deve ir para a beleza negra de Lupita Nyong'o por sua interpretação visceral de sua personagem humilhada. No lugar de Sally Hawkins (Blue Jasmine) eu colocaria Scarlett Johansson (a voz de Samantha, no filme Ela).

6. Melhor Direção: Alfonso Cuarón deve levar a estatueta pelo seu caro e aclamado pelo público Gravidade (Gravity). Não dá pra negar que é um filme diferente e bem interessante. Os outros indicados, apesar de excelentes, são filmes de formato mais comum.

7. Melhor Roteiro Original: Vale a pena assistir a todos os indicados desta categoria. São todos filmes com estórias bem interessantes, diferentes e tocantes. Provavelmente, Spike Jonze vai levar a estatueta pelo excelente roteiro do filme Ela (Her). Pois Ela já vem ganhando este prêmio nesta categoria em outros festivais de cinema.


Bom, como não vi todos os desenhos animados indicados e nem todos os de língua estrangeira, vou chutar Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) e o italiano A Grande Beleza (La Grande Bellezza), respectivamente.
Antes de ver a foto dele eu jurava que Spike Jonze era negro... mas não me pergunte o porquê!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Segurança é para quem vive na prisão

Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin

 

 

─ Muito bem, agora vocês têm um bom emprego. Não se metam em confusão e terão segurança para o resto de suas vidas.

 


 

Segurança? Isso é algo que você pode conseguir na cadeia. Três metros quadrados, nada de aluguel a pagar, nenhum bem de consumo, imposto de renda, criança para sustentar. Nenhuma taxa de licenciamento de carro. Nenhuma multa. Nenhuma detenção por dirigir bêbado.
Prisão de Guatánamo, 2002
Nenhuma perda nas corridas de cavalo. Assistência médica gratuita. Camaradagem com aquelas pessoas com os mesmos interesses. Igreja. Enterro grátis.


by Charles Bukowski (1920-1994), in Cartas na Rua (1971)